"(...) Saúdo-os e desejo-lhes sol / E chuva, quando a chuva é precisa, e que as suas casas tenham / Ao pé duma janela aberta / Uma cadeira predileta / Onde se sentem, lendo os meus versos. (...)" (CAEIRO, Alberto. O guardador de rebanhos)

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Trechinho para (quem sabe) alguém ficar com vontade de ler mais. Mas atenção: Vá até Guimarães, primeiro, por causa da LINGUAGEM. Ó que lindeza:

"(...) Quando vim, nessa viagem, ficar uns tempos na fazenda de meu tio Emílio, não era a primeira vez. Já sabia que das moitas de beira de estrada trafegam para a roupa da gente umas bolas de centenas de carrapatinhos, de dispersão rápida, picadas milmalditas e difícil catação; que a fruta da cagaiteira, comida com sol quente, tonteia como cachaça; (...) que quando um cavalo começa a parecer mais comprido, é que o arreio está saindo para trás, com o respectivo cavaleiro; e, assim, longe de outras coisas. Mas muitas mais outras eu ainda tinha que aprender. ”

(Guimarães Rosa. "Minha Gente", Sagarana)

domingo, 17 de outubro de 2010

"Piso no pedal do sonho
E a vida ganha mais alegria
Ganha o meu tesouro da juventude"

(Tavinho Moura e Muilo Antunes - Tesouro da juventude, na voz do Beto Guedes

(o que seria da vida, sem o tudo de bom desses mineiros?)

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

"Sinto que o progresso requer, numa determinada etapa, que deixemos de matar nossos companheiros, os animais, para a satisfação de nossos desejos corpóreos" (Gandhi)

sábado, 24 de julho de 2010

Este é um poema que, pra mim, não deve ser comentado... é só ele... sem mais palavras. Só o respiro fundo, desde minha adolescência:

HOMEM COM MOCHILA

Homem com mochila no mercado, Irmão,
como você, sou homem burro, homem camelo,
homem anjo. Sou como você.
Nossos braços são livres como asas.
Comparados conosco, todos os que carregam cestas
são escravos de escravos, sujeitos e humilhados.
Nós trocamos moedas por verduras frescas,
e para o esquecimento de nossas vidas compramos
frutas e suas memórias, memória de campo e jardim,
memória de cheiro da terra e do zumbir das abelhas em dia de calor.
Nós vimos uma mulher num vestido leve de verão,
antes de um amor longo e intenso,
que determinará a sua vida. Ela não sabe ainda.
Nós sabemos. Em nossas costas
carregamos o fruto da árvore do conhecimento.
Homem com mochila, você vive onde?
Eu sou como você, vivemos nas distâncias
entre o prêmio e a punição.
E como nós vivemos? E como à noite nós dormimos,
em que sonhamos? Os que você ama,
ainda vivem nos mesmos lugares?
Nossas mochilas, como paraquedas fechados
em nossas costas, abrem de noite
para podermos saltar, e pairar
sobre a fragrância de lembrar e esquecer.

©Yehuda Amich
(tradução de Millor Fernandes)

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Preparando uma aula pro 3º do COC (abração pra galera!!!), achei perdido, nas minhas coisas, este trecho do Padre Vieira (séc. XVII).

Ó que doido.
Parece-me uma noção ambígua em relação ao antropocentrismo... Barroco total mesmo! Muito legal pensar no significado deste texto em relação ao contexto da época (a Contra-reforma e tal...) e o quanto é válido hoje, quatro séculos depois.

"Não é o homem um mundo pequeno que está dentro do mundo grande, mas é um mundo grande que está dentro do pequeno. Baste por prova o coração humano, que sendo uma pequena parte do homem, excede na capacidade a toda a grandeza do mundo. (...) O mar, com ser um monstro indômito, chegando às areias, pára; as árvores, onde as põem, não se mudam; os peixes contentam-se com o mar, as aves com o ar, os outros animais com a terra. Pelo contrário, o homem, monstro ou quimera de todos os elementos, em nenhum lugar pára, com nenhuma fortuna se contenta, nenhuma ambição ou apetite o falta: tudo confunde e como é maior que o mundo, não cabe nele".

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Páscoa

Êba: feriado, chocolate!

"(...) mas meu cristo é diferente
A sombra dele é sem cruz, dele é sem cruz
No meio daquela luz, daquela luz
"

(O Rappa)

terça-feira, 16 de março de 2010

Desculpem, mas, por enquanto esse blog está meio que numa fase "não me acessem" (risos). Eu o criei há pouco tempo, com vários planos em mente - e os colocarei em prática - porém nas últimas semanas estou totalmente sem tempo, com muuuuito trampo.

terça-feira, 9 de março de 2010

MUITO BOM: pra ficar ouvindo um som na net, sugestão:

http://globoradio.globo.com/MusicCenter/0,,4497,00.html.

Atenção pra Zona de Impacto da SportV e as rádios temáticas - são várias rádios, de todo tipo, pra todo gosto, só com música, direto, sem publicidade.

Pô, só não tem uma específica de Metal... Mas tem rockão (Radio Rock Heroes), blues (Crossroads FM - muito boa!), reggae (Rádio Rasta), MPB (várias boas - atenção para a Som Livre Apresenta - pra quem gosta de novidade na cena musical e também a Masters FM - só raridades, selecionadas por Charles Gavin), tem tecneira (Beats FM) y muchas cositas más...

terça-feira, 2 de março de 2010

...

... Porque um apaixonado pela palavra ganha as muitas e várias outras coisas que a palavra traz...

...

... buscar o novo: no ovo, na música, na música velha, no livro, na roupa, no hábito inexorável, na morte, no Cazuza cantando eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades... o tempo não pára... ! (...TEMPO...)... e continua sempre: buscar o novo...

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Mulheres sempre têm uma caixinha de joias guardada em algum lugar.
A minha fica ao lado da cama: é a edição da Poesia Completa de Drummond.
Vira e mexe reencontro nela, como da 1ª vez, uma pedra rara.
Como disse Ezra Pound, literatura é novidade que permanece novidade.
Caras assim, João Cabral, Manoel de Barros, " entesouram frases" .
Por eles, muita admiração, agradecimento e uma pontinha duma inveja, a de terem tirado da minha boca, do meu teclado, palavras como nunca saberei escrever.

Ó aí um exemplo fodido:

PARA A FEIRA DO LIVRO

(João Cabral de Melo Neto)

Folheada, a folha de um livro retoma
o lânguido e vegetal da folha folha,
e um livro se folheia ou se desfolha
como sob o vento a árvore que o doa;
folheada, a folha de um livro repete
fricativas e labiais de ventos antigos,
e nada finge vento em folha de árvore
melhor do que vento em folha de livro.
Todavia a folha, na árvore do livro,
Mais do que imita o vento, profere-o:
A palavra nela urge a voz, que é o vento,
Ou ventania varrendo o podre a zero.

Silencioso; quer fechado ou aberto,
inclusive o que grita dentro; anônimo:
só expõe o lombo, posto na estante,
que apaga em pardo todos os lombos
modesto: só se abre se alguém o abre,
e tanto o oposto do quadro na parede,
aberto a vida toda, quanto da música,
viva apenas enquanto voam suas redes.
Mas apesar disso e apesar de paciente
(deixa-se ler onde queiram), severo:
exige que lhe extraiam, o interroguem;
e jamais exala: fechado, mesmo aberto.