"(...) Saúdo-os e desejo-lhes sol / E chuva, quando a chuva é precisa, e que as suas casas tenham / Ao pé duma janela aberta / Uma cadeira predileta / Onde se sentem, lendo os meus versos. (...)" (CAEIRO, Alberto. O guardador de rebanhos)

terça-feira, 12 de abril de 2011

quem tem saudade de ler Caio Fernando Abreu (há quanto tempo!), se pudesse abrir uma brecha no dia... Credo, que vida doida...

... então, como fetiche - proibidíssimo, pois não devia estar fazendo isso agora - abri o livro em qualquer página. E é sempre bom, em qualquer página:

Mel & Girassóis (ao som de Nara Leão)

"Como naquele conto de Cortázar - encontraram-se no sétimo ou oitavo dia de bronzeado. Sétimo ou oitavo porque era mágico e justo encontrarem-se, Libra, Escorpião, exatamente nesse ponto, quando o eu vê o outro. Encontraram-se, enfim, naquele dia em que o branco da pele urbana começa a ceder território ao dourado, o vermelho diluiu-se aos poucos no ouro, então dentes e olhos, verdes de tanto olhar o sem fim do mar, cintilam feito os de felinos espiando entre moitas. Entre moitas, olharam-se. Naquele momento em que a pele entranhada de sal começa a desejar sedas claras, algodões crus, linhos brancos, e a contemplação do próprio corpo nu revela espaços sombrios de pelos onde o sol não penetrou. Brilham no escuro esses espaços, fosforecentes, desejando outros espaços iguais em outras peles no mesmo ponto de mutação. E lá pelo sétimo, oitavo dia de bronzeado, passar as mãos nessas superfícies de ouro moreno provoca certo prazer solitário, até perverso, não fosse tão manso, de achar a própria carne esplêndida. (...)"
(ABREU, Caio Fernando. Os dragões não conhecem o paraíso)

Hmmm, vontade de ler mais... passar o dia na rede, devorando inteiro... mas "vamu" pra vida cotidiana, que a hora é de ralar rsrsrsrsrs.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Matéria "Oito semanas de meditação provocam alterações cerebrais", em: http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=47128


Corpo - escultura viva



... a dificuldade em definir um caminho, no meu caso, era por querer vários. Mas sempre houve duas linhas norteadoras: primeiro, a Estética (a arte, a forma) - daí ter ficado super dividida entre seguir profissionalmente a Dança, o Cinema ou a Literatura (acabei optando pela última). O outro ponto fundamental sempre foi a atividade física, a coisa de levar o corpo ao limite - daí também o Balé, o Montain bike, o Fitness, etc, etc... De repente, já nel mezzo del cammino, conheci o SwáSthya Yôga (pronuncia-se "suástia"). O real envolvimento com essa filosofia permite entender como ela acaba unindo tudo isso - e muito mais; afinal, pudera, "Yôga" significa união, integração... O SwáSthya Yôga (nome da sistematização do Yôga Antigo) é muito completo, com várias técnicas que trabalham o corpo físico, energético, emocional, mental e intuicional. Uma das oito partes de uma prática completa de SwáSthya é o Ásana (pronuncia-se "ássana"), é a técnica orgânica. Nela, nosso próprio corpo se coloca como uma obra de arte ("esculturas viventes", nas palavras de DeRose).
No Yôga Antigo, de 5.000 anos atrás, os ásanas eram encadeados um no outro, executados numa sequência coreográfica, daí Shiva ter sido imortalizado na mitologia hindu, como "Natarája", o rei dos bailarinos. Essa espécie de dança milenar é uma das características resgatadas pelo SwáSthya. É bonita pra caramba!
Se olhada, assim, de fora, parece um fim em si mesmo - como na Arte -, então, até aí, a prática dos ásanas e, principalmente, as coreografias do SwáSthya já justificariam minha adesão total, uma vez que fazem do trabalho corporal intenso uma arte, mas o interessante é que o Ásana é apenas uma das várias ferramentas que o SwáSthya utiliza para atingir sua meta, que é o estado expandido de consciência, a hiperconsciência, o autoconhecimento. E esse sim, sem dúvida, é um caminho (para o qual todos os outros convergem) bem interessante a ser seguido...

Para quem não conhece, vale a pena ver coreografias de SwáSthya. Eis alguns exemplos:


quinta-feira, 20 de janeiro de 2011


Dia desses, encontrei uma amiga querida na rua, fazia muito tempo que não a via pessoalmente - só pelos facebooks da vida - e ela, que se inteirava de mim por fotos e postagens, comentou como eu estava certa em começar a dar aula de yôga, que para mudar de profissão, não precisaria ficar me matando de estudar e tal... Ela não falou por mal e expressou a visão que muita gente tem sobre essa área profissional (ou seja, a visão de que não há nada de profissional na área). Infelizmente, tal ideia é até respaldada por uma parcela da realidade, sim ... Porém o que eu faço não tem nada a ver com isso. Faço formação profissional para ser instrutora de SwáSthya Yôga do Método DeRose - um método que possui um caráter acadêmico, uma seriedade superlativa. Em março de 2011, fará um ano que comecei e, então, vou prestar o exame da Federação Nacional de Yôga (mediante convênio com uma Universidade federal, estadual ou católica). Se eu passar, aí sim, darei início à minha formação como instrutora na Universidade de Yôga, cujo tempo total é de doze anos. Estou estudando e praticando pra caramba, pois se trata de uma prova teórica e prática extremamente rígida. Caso seja aprovada, ainda não poderei retirar meu certificado, ele fica retido na Universidade e, só após comprovação de estágio supervisionado por minha monitora, poderei refazer a prova e, só então, se aprovada novamente, retiro o certificado. Estarei habilitada a dar aula de Yôga, mas, se quiser fazer parte do Método DeRose, tenho de continuar minha formação, com revalidações anuais pelos doze anos que havia mencionado, senão meu certificado é anulado e o direito a lecionar pelo Método, cassado.
Em contato há quase um ano com essa filosofia milenar, já houve mudanças incríveis na minha vida, imagine a evolução que posso alcançar se me mantiver seguindo o caminho e as exigências que o Método propõe, um método que é extremamente estruturado e baseado em 5.000 anos da filosofia e da cultura Dakshinacharatántrika-Niríshwarasámkhya.
Tive vontade de contar isso a quem não sabe, só pra dar uma ideia sobre como funciona o processo de formação no Método DeRose e divulgar sua seriedade. Afinal, quem souber disso tem a liberdade de optar por praticar, por exemplo, com um professor de Educação Física que dá aulas de yôga, após um curso de final de semana ou com um profissional de yôga, de fato, que tenha uma formação de alta credibilidade.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Trechinho para (quem sabe) alguém ficar com vontade de ler mais. Mas atenção: Vá até Guimarães, primeiro, por causa da LINGUAGEM. Ó que lindeza:

"(...) Quando vim, nessa viagem, ficar uns tempos na fazenda de meu tio Emílio, não era a primeira vez. Já sabia que das moitas de beira de estrada trafegam para a roupa da gente umas bolas de centenas de carrapatinhos, de dispersão rápida, picadas milmalditas e difícil catação; que a fruta da cagaiteira, comida com sol quente, tonteia como cachaça; (...) que quando um cavalo começa a parecer mais comprido, é que o arreio está saindo para trás, com o respectivo cavaleiro; e, assim, longe de outras coisas. Mas muitas mais outras eu ainda tinha que aprender. ”

(Guimarães Rosa. "Minha Gente", Sagarana)

domingo, 17 de outubro de 2010

"Piso no pedal do sonho
E a vida ganha mais alegria
Ganha o meu tesouro da juventude"

(Tavinho Moura e Muilo Antunes - Tesouro da juventude, na voz do Beto Guedes

(o que seria da vida, sem o tudo de bom desses mineiros?)

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

"Sinto que o progresso requer, numa determinada etapa, que deixemos de matar nossos companheiros, os animais, para a satisfação de nossos desejos corpóreos" (Gandhi)

sábado, 24 de julho de 2010

Este é um poema que, pra mim, não deve ser comentado... é só ele... sem mais palavras. Só o respiro fundo, desde minha adolescência:

HOMEM COM MOCHILA

Homem com mochila no mercado, Irmão,
como você, sou homem burro, homem camelo,
homem anjo. Sou como você.
Nossos braços são livres como asas.
Comparados conosco, todos os que carregam cestas
são escravos de escravos, sujeitos e humilhados.
Nós trocamos moedas por verduras frescas,
e para o esquecimento de nossas vidas compramos
frutas e suas memórias, memória de campo e jardim,
memória de cheiro da terra e do zumbir das abelhas em dia de calor.
Nós vimos uma mulher num vestido leve de verão,
antes de um amor longo e intenso,
que determinará a sua vida. Ela não sabe ainda.
Nós sabemos. Em nossas costas
carregamos o fruto da árvore do conhecimento.
Homem com mochila, você vive onde?
Eu sou como você, vivemos nas distâncias
entre o prêmio e a punição.
E como nós vivemos? E como à noite nós dormimos,
em que sonhamos? Os que você ama,
ainda vivem nos mesmos lugares?
Nossas mochilas, como paraquedas fechados
em nossas costas, abrem de noite
para podermos saltar, e pairar
sobre a fragrância de lembrar e esquecer.

©Yehuda Amich
(tradução de Millor Fernandes)

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Preparando uma aula pro 3º do COC (abração pra galera!!!), achei perdido, nas minhas coisas, este trecho do Padre Vieira (séc. XVII).

Ó que doido.
Parece-me uma noção ambígua em relação ao antropocentrismo... Barroco total mesmo! Muito legal pensar no significado deste texto em relação ao contexto da época (a Contra-reforma e tal...) e o quanto é válido hoje, quatro séculos depois.

"Não é o homem um mundo pequeno que está dentro do mundo grande, mas é um mundo grande que está dentro do pequeno. Baste por prova o coração humano, que sendo uma pequena parte do homem, excede na capacidade a toda a grandeza do mundo. (...) O mar, com ser um monstro indômito, chegando às areias, pára; as árvores, onde as põem, não se mudam; os peixes contentam-se com o mar, as aves com o ar, os outros animais com a terra. Pelo contrário, o homem, monstro ou quimera de todos os elementos, em nenhum lugar pára, com nenhuma fortuna se contenta, nenhuma ambição ou apetite o falta: tudo confunde e como é maior que o mundo, não cabe nele".

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Páscoa

Êba: feriado, chocolate!

"(...) mas meu cristo é diferente
A sombra dele é sem cruz, dele é sem cruz
No meio daquela luz, daquela luz
"

(O Rappa)

terça-feira, 16 de março de 2010

Desculpem, mas, por enquanto esse blog está meio que numa fase "não me acessem" (risos). Eu o criei há pouco tempo, com vários planos em mente - e os colocarei em prática - porém nas últimas semanas estou totalmente sem tempo, com muuuuito trampo.

terça-feira, 9 de março de 2010

MUITO BOM: pra ficar ouvindo um som na net, sugestão:

http://globoradio.globo.com/MusicCenter/0,,4497,00.html.

Atenção pra Zona de Impacto da SportV e as rádios temáticas - são várias rádios, de todo tipo, pra todo gosto, só com música, direto, sem publicidade.

Pô, só não tem uma específica de Metal... Mas tem rockão (Radio Rock Heroes), blues (Crossroads FM - muito boa!), reggae (Rádio Rasta), MPB (várias boas - atenção para a Som Livre Apresenta - pra quem gosta de novidade na cena musical e também a Masters FM - só raridades, selecionadas por Charles Gavin), tem tecneira (Beats FM) y muchas cositas más...

terça-feira, 2 de março de 2010

...

... Porque um apaixonado pela palavra ganha as muitas e várias outras coisas que a palavra traz...

...

... buscar o novo: no ovo, na música, na música velha, no livro, na roupa, no hábito inexorável, na morte, no Cazuza cantando eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades... o tempo não pára... ! (...TEMPO...)... e continua sempre: buscar o novo...

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Mulheres sempre têm uma caixinha de joias guardada em algum lugar.
A minha fica ao lado da cama: é a edição da Poesia Completa de Drummond.
Vira e mexe reencontro nela, como da 1ª vez, uma pedra rara.
Como disse Ezra Pound, literatura é novidade que permanece novidade.
Caras assim, João Cabral, Manoel de Barros, " entesouram frases" .
Por eles, muita admiração, agradecimento e uma pontinha duma inveja, a de terem tirado da minha boca, do meu teclado, palavras como nunca saberei escrever.

Ó aí um exemplo fodido:

PARA A FEIRA DO LIVRO

(João Cabral de Melo Neto)

Folheada, a folha de um livro retoma
o lânguido e vegetal da folha folha,
e um livro se folheia ou se desfolha
como sob o vento a árvore que o doa;
folheada, a folha de um livro repete
fricativas e labiais de ventos antigos,
e nada finge vento em folha de árvore
melhor do que vento em folha de livro.
Todavia a folha, na árvore do livro,
Mais do que imita o vento, profere-o:
A palavra nela urge a voz, que é o vento,
Ou ventania varrendo o podre a zero.

Silencioso; quer fechado ou aberto,
inclusive o que grita dentro; anônimo:
só expõe o lombo, posto na estante,
que apaga em pardo todos os lombos
modesto: só se abre se alguém o abre,
e tanto o oposto do quadro na parede,
aberto a vida toda, quanto da música,
viva apenas enquanto voam suas redes.
Mas apesar disso e apesar de paciente
(deixa-se ler onde queiram), severo:
exige que lhe extraiam, o interroguem;
e jamais exala: fechado, mesmo aberto.